São autores de um dos melhores registos de rock pesado do ano passado no território nacional. "The Melancholy Hour" transmite toda a qualidade de uma banda com motivos para reclamar por um salto na sua carreira.
Crónicas do Som Eterno procurou tomar o pulso de como tem sido assimilada por parte dos Vertigo Steps (VS) a recepção de que o álbum tem sido alvo e procurou saber algumas novidades sobre o novo trabalho que a banda se encontra a preparar.
As palavras que se seguem são do guitarrista e mentor da banda, Bruno A.
Depois do óptimo trabalho de estreia, “The Melancholy Hour” (TMH) surgiu como um segredo bem guardado e causar ainda maior surpresa. Acima de tudo, pelo “salto” qualitativo em termos de maturidade criativa. Quais as grandes diferenças entre os dois registos?
Saudações às CSE. Com efeito, houve um evolução natural e positiva. O álbum de estreia foi intencionalmente bastante variado, com temas de diversos períodos e até algum improviso ao nível da gravação; no TMH tudo foi mais pensado e programado, com mais tempo nas mãos, maior à vontade e cumplicidade entre mim e o vocalista e maior certeza ainda do caminho a traçar. Isso acabou por traduzir-se num trabalho mais complexo e progressivo, mas ao mesmo tempo bastante mais coeso, sólido e até catchy.
Houve também um excelente trabalho do Daniel Cardoso a nível da produção, e também na secção rítmica, com o selo de qualidade que se lhe reconhece. Até o ambiente em estúdio foi melhor e mais descontraído, o que está espelhado de forma feliz nos studio-episodes e no videoclip de “INhale”. Tudo isto marca a diferença, natural e desejável diria eu, entre os dois lançamentos.
Sabemos que o disco teve excelente recepção por parte de quem o ouviu. Quais foram as reacções ao álbum que gostariam de destacar?
Sim, regra geral os adeptos da banda gostaram imenso e angariámos novos seguidores. Figurou em muitas listas pessoais de melhores do ano. A nível dos media, obtivemos excelentes críticas um pouco por todo o lado e mesmo uma ou outra menos entusiasmada fez sempre questão de realçar a qualidade do álbum, indicando que se tratou apenas de gosto pessoal ou por esperar algo “mais metal”. Felizmente, já deve ter dado para perceber por esta altura que somos uma banda diferente e que não estamos minimamente preocupados em fazer algo mais ou menos metal, mais sushi ou mais courato, mas sim evoluir no nosso som, que tanto mantém traços de metal como de rock alternativo, progressivo, post-rock, ambiental, etc. Queremos continuar a escrever grandes temas que fiquem para a posterioridade, sem qualquer barreira estilística. Preferia não elencar reacções mediáticas em particular, mas se forem ao nosso MySpace tem uma boa representação geral do que foi dito; mas além das entrevistas e rádio broadcasts, posso talvez referir as críticas na Loud!, Metal Rules, Sea of Tranquillity, Metal Storm ou Desibeli. Ou um destaque especial e consequente entrevista de 16 páginas na End Of The Road. E, claro, sem olvidar a vossa, com uma tagline para a posterioridade: Isto é Vertigo Steps e chega!
Apesar do disco ser bem aceite por quem o ouviu, e de ser (quase) unânime a opinião sobre a sua qualidade superior o certo é que os Vertigo Steps ainda são algo ignorados. Que tipo de reacção ou sensações te causa?
Bem, ignorados será provavelmente uma expressão demasiado forte, mas concordo que poderia existir uma maior exposição e os novos ouvintes ficam amiúde espantados por não terem ouvido falar previamente de VS. Por um lado, para uma banda ainda não-assinada e que não dá concertos conseguir a projecção mediática que tivemos desde a estreia não é um mau sinal. Por outro, sinto que é mais árduo chegar aos ouvidos de um maior número de pessoas, infelizmente não pela qualidade do som mas por se perder no meio do chorrilho de lançamentos e da maior exposição mediática de bandas assinadas, muitas dessas como é sabido de interesse musical relativo ou formulaico.
De qualquer forma, nunca será isso a fazer-nos cessar, há um impulso para criar música especial e estou certo que mesmo com o estado das coisas no meio musical, eventualmente conseguiremos chegar mais longe e ver os nossos álbuns devidamente editados e distribuídos para alem do formato digital.
Posso adiantar-te que houve até diversos label-managers que teceram rasgados elogios ao trabalho, não tendo no entanto actualmente meios para apostar nele.
Noutro pais um projecto com os elementos (residentes ou colaborações) que integram os Vertigo Steps teria maior projecção? Não existe alguma ignorância sobre quem participa no projecto Vertigo Steps? Já agora, quem são essas participações?
Bruno |
Pessoalmente, considero sempre as participações através da mais-valia musical e não dos nomes. Já tivemos a possibilidade de ter músicos mais conhecidos a participar e não nego que os venhamos a ter futuramente, mas o nosso output musical tem um cunho muito personalizado e portanto essas participações terão sempre de se adequar ao tema em questão e acrescentar-lhe valor pelo que de novo trazem - e não o inverso. Já tivemos participações vocais do Stein R Sordal e do Jules Näveri, que são nomes naturalmente bem maiores nos seus países de origem do que por cá, pelo menos para quem ande menos atento. Intérpretes de enorme talento, assim como a Sophie ou até o Rui Viegas e o André Vasconcelos (de Arcane Wisdom), o próprio Daniel participa com vocalizações esporádicas. O Niko é o nosso vocalista e portanto um “residente” e era conhecido sobretudo na Finlândia pelo seu óptimo trabalho em Misery Inc., mas é em VS que está a revelar a total abrangência e potencialidade como vocalista.
Se existe ou não essa ignorância que referes não te posso precisar, penso que depende da curiosidade de cada um em aprofundar; eu quando gosto de um projecto que conta com diversas participações de qualidade interesso-me em saber quem estas são, mas admito perfeitamente que muita gente não tem este ímpeto e prefere simplesmente ouvir música de forma mais simples e passiva, sem informações adicionais. Naturalmente que a periferia geográfica e pequena dimensão do mercado nunca são grande ajuda para as bandas nacionais.
Ao público pode causar algum espanto o facto de Vertigo Steps ser composto por elementos e contar com colaborações de vários pontos do mapa, alguns com bastantes quilómetros de distância. Parece que a net é uma grande ajuda para ultrapassar esta barreira? Como funcionam regra geral os Vertigo Steps, especialmente no processo criativo?
Há que inovar não apenas musicalmente mas também a nível de processos! Como sabes, coloco sempre a música em primeiro lugar e portanto com VS não me preocupei em arranjar apenas músicos locais e que pudessem tocar ao vivo, isso poderia ser extremamente redutor.
No final, o que permanece é a música e portanto apesar de também gostar de actuar ao vivo, preferi não colocar esse tipo de barreiras quando comecei a procurar o vocalista adequado. Por outro lado, isso também permite abrir um pouco VS à Finlândia, sei que temos lá bastantes apreciadores e alguma atenção mediática. A dinâmica criativa funciona tirando partido da Web e de forma muito simples: eu componho e gravo tudo aqui no meu home-studio e depois envio os temas ao Niko (e aos outros convidados, naturalmente) e ele vai criando as linhas vocais, reenviando, etc. Vamos trocando ideias até chegar à melhor forma possível, a nível de pré-produção, e por vezes também gravo vozes para lhe mostrar novas abordagens e perspectivas.
Através deste intercâmbio vai-se construindo o esqueleto do álbum e depois em estúdio torna-se mais simples, até pelo facto de já levar todas as programações finais, a nível de teclas, atmosferas, loops & samples. É claro que o Niko tem sempre de deslocar-se da Finlândia, mas é por uma boa causa e sempre apanha umas temperaturas positivas para variar.
A música de VS transpira melancolia e nostalgia. De onde vem todo este feeling? Pelo que soube não és propriamente adepto de sonoridades tipicamente melancólicas….
Por acaso, acho que um dos traços comuns a praticamente toda a música que ouço – e que viaja entre estilos extremamente diferentes e variados, embora sempre de forma bastante selectiva – é precisamente uma certa toada melancólica, nostálgica, ambiental. Penso que te referirás ao facto de não apreciar música mais “lamechas” e de facto quando se utiliza o termo melancólico haverá sempre quem associe logo a doom, gótico ou emo de toda mais romântica e whiny...
O que valorizo é a capacidade adulta e genuína de através da junção de diversas texturas, se conseguir atingir no ouvinte um determinado estado de alma, profundo e intenso e que o faça reflectir e viajar. É por isso que não aprecio minimamente música mais happy ou supérflua; considero que deve existir todo um diálogo com o ouvinte que o obrigue a entrar em estados de alma que não serão necessariamente positivos para o próprio, mas que apresentam um desafio e um reencontro de cariz introspectivo. Essa melancolia e nostalgia tanto encontro em bandas sonoras e música ambiental, como som étnico e darkwave, música clássica, até alguma música electrónica... assim como post-rock, gótico/new wave e naturalmente muito Metal, preferencialmente melódico, progressivo, experimental, mas também groove e com atitude!
Tanto esta miríade de influências musicais, como a minha visão muito própria do mundo e toda a literatura e cinema que avidamente consumo, são certamente espelhadas no som evocado, por isso VS dificilmente soaria de outra forma
Ainda “The Melancholy Hour” está meio fresco e vocês já preparam um sucessor que parece que terá como titulo “Surface/Light”. Queres levantar um pouco o véu sobre o novo trabalho?
É verdade! Bom, o TMH acabou de ser composto já há cerca de um ano e após 6 meses de “desmame” e praticamente sem criar, e entrada do Outono passado coincidiu com um surto criativo bastante inesperado mas que basicamente nos deixou com um novo álbum nas mãos! E ainda por cima, com o melhor álbum da carreira ainda curta de VS: disto não temos quaisquer dúvidas. Uma opinião aliás partilhada pelas pessoas envolvidas na banda, assim como as que já puderam ouvir algum do material novo. Acabei por me focar em 13 temas novos e temos estado lenta mas gradualmente – devido à disponibilidade de tempo do nosso vocalista nunca ser a melhor – a criar linhas vocais e letras. Ao mesmo tempo, os convidados estão também a conferir o seu toque de excelência (serão divulgados a tempo oportuno).
A nível instrumental estaria até já pronto para entrar em estúdio, mas agora importa completar as linhas vocais e lapidar mais alguns detalhes para concluir a pré-produção que tenho no home-studio. Ainda não temos datas para a gravação, embora esteja em contacto frequente com o Daniel e os USS para tentar compatibilizar as coisas da melhor forma, mas estamos a apontar para finais de 2011.
Acima de tudo, estou ansioso para ter o “Surface/ Light” pronto e poder partilhar as novas criações com todos os apreciadores da banda, pois tem sido complicado estar tão realizado, tão seduzido com o material novo mas não poder ainda revelar muito do que aí virá. Também iremos começar muito em breve a trabalhar no artwork, que promete desde logo marcar alguma diferença para os trabalhos anteriores. Será um álbum a todos os títulos muito especial e mesmo a nível de pré-produção, os temas já transpiram uma magia incrível, com temas curtos de um apelo catchy fortíssimo e melodias viciantes mas também uma toada atmosférica, cinemática e post-rock cada vez mais acentuada.
Mantenham-se atentos à nossa página de Facebook! E um forte obrigado pela entrevista e todo o apoio dispensado pelas CSE.
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