6 de novembro de 2010

Painted Black: Metal com sentimento


Depois de dois registos de autor alvos de uma recepção bem aceitável e que valeu à banda ser eleita pelos leitores da revista "Loud" como a melhor banda portuguesa de metal sem contracto discográfico durante 3 anos, os Painted Black chegaram a acordo com a Ethereal Sound Works pela qual lançaram o almejado álbum de estreia. "Cold Confort" é um dos discos do ano. Música enleante, combinando com sobriedade peso e melodia, melancolia e agressividade que resulta numa formula que merece colher frutos. Alguns meses após a edição do disco procuramos saber como tem sido "digerida" a recepção a "Cold Confort". As palavras são do guitarrista da banda, Luis Fazendeiro.


Longa distancia vai da edição de “The Neverlight” para “Cold Comfort”, mas muito maior é diferença entra as duas obras. Mais do que evolução é justo dizer que houve uma transformação na sonoridade Painted Black?

“O Neverlight” foi lançado há 5 anos e ainda tivemos pelo meio o “Verbo”, mas acho natural que nesse espaço de tempo tenhamos crescido como banda. Acho que o nosso som não teve uma transformação muito radical mas crescemos a nível musical e a nível de composição nestes anos e juntamente com a nossa vontade de começar a explorar novas linguagens musicais resultou no que se pode ouvir no “Cold Comfort”. De qualquer forma, a nossa maneira de compor não se alterou muito e continuamos a dar muito de nós em cada nota e cada palavra, e é esta a única maneira que sabemos fazer música.

Alguns meses após a edição de “Cold Confort” já é possível uma auto-critica mais fria e distante da vossa parte ao álbum? Que auto-critica fazem?

Estamos realmente muito orgulhosos do disco que fizemos e da viagem que percorremos até chegar a ele. A maioria das críticas ao disco têm sido bastante lisonjeadoras e não estavamos realmente nada à espera. Quanto à minha auto-critica, acho que temos músicas bastante fortes, e que serão dificilmente repetiveis. Estou a falar por exemplo da “Via Dolorosa” e da “Inevitability”. Foram dos últimos temas a aparecer antes das gravações e acho que “chegaram” em muito boa altura. É óbvio que gosto de todos os temas, porque de certa maneira fazem parte de mim, aliás todos nós na banda gostamos de todas as músicas, principalmente com a excelente produção do Pedro Mendes e do Daniel Cardoso, mas há sempre alguns pormenores que podiam ter saído melhor. Acho que é normal fazer esse tipo de reparos quando já conseguimos ouvir as músicas de uma forma mais fria, mas era um dos nossos grandes sonhos de vida lançar um álbum do qual pudéssemos estar orgulhosos e estamos completamente satisfeitos.

Quando iniciaram gravações presumo que ainda não havia luz sobre uma editora que lançasse o álbum. Quando surgiu a  Ethereal Sound Works e como surgiu? Estão satisfeitos com a colaboração da editora com a banda?

O nosso contacto com a Ethereal Sound Works já vem de antes da edição do álbum. Quando lançámos o “Verbo” eles mostraram interesse em ter exemplares à venda na sua loja online. Na altura de sondar editoras, enviámos-lhes um promo-CD e de todas as propostas que recebemos a deles foi a que mais nos agradou. A partir daí foi um processo natural e eles têm cumprido bem a parte deles. Neste momento a preocupação é na distribuição do disco fora de Portugal, mas estão a ser feitos esforços nesse sentido.

A esta altura têm também uma ideia mais concisa da aceitação do álbum pelo publico já que pelos média ela está a ser muito favorável. Como tem sido esse feedback?

O feedback mais directo tem sido em grande parte dos média mas as reacções das pessoas que têm partilhado a sua opinião connosco têm sido muito boas.  É sempre muito tocante sentir que a nossa música consegue despertar emoções em quem nos ouve e esse é realmente o maior presente que poderíamos ter. Sentimos que estamos a chegar a mais público mas no entanto sabemos que ainda temos que fazer mais trabalho de promoção e estamos a canalizar esforços nesse sentido.

Voltando ao álbum e à musica propriamente. Um dos aspectos que me parecem relevantes é que apesar de haver um “fio condutor” em toda a obra os temas são todos distintos entre si contribuindo para uma maior heterogeneidade. Comungam dessa ideia?

Sim, a variedade sempre pautou a nossa música e não somos claramente uma banda que use uma fórmula fixa para todos os temas que fazemos. A nível lírico existe de facto um fio condutor, mas que não foi de todo propositado, nem foi elaborado para ser algo conceptual. Musicalmente  sentimo-nos como uma banda de metal mas não temos problema nenhum em criar músicas completamente acústicas e atmosféricas. Este aspecto já levou algumas pessoas a dizer que ainda estamos à procura de uma identidade e em parte até concordo. De qualquer forma, não nos estou a ver a abandonar a nossa “heterogeneidade” como referes, até porque  isso faz parte daquilo que construímos até agora e da nossa identidade. Não nos queremos de forma alguma limitar na maneira como nos exprimimos e na maneira como sentimos a nossa música, queremos sempre ser completamente honestos e verdadeiros naquilo que fazemos.

Já tiveram alguns concertos de promoção ao álbum na zona da Grande Lisboa. Perspectivam algo para outras zonas do pais ou estão dependentes dos convites que possam surgir?

Já temos alguns concertos confirmados para outras zonas do país onde nunca tocámos antes, nomeadamente em Mangualde, no 17º Mangualde Hard Metal Fest e em Ílhavo, no X Blindagem Metal Fest. De qualquer maneira estamos sempre dependentes de convites. Já tentámos várias vezes dar o primeiro passo mas infelizmente na maioria das vezes não tivemos retorno do outro lado.

Cada vez mais as conotações musicais tendem a ser redutoras. Vocês apesar de reconhecerem algumas influências vindas do Doom Metal nunca se identificaram como tal. “Cold Confort” surge um pouco como a consumação de um “divorcio” com o Doom. Qual a vossa posição sobre este aspecto?

De facto nunca negámos as nossas influências mais Doom, e desde a altura das maquetes as pessoas sempre nos rotularam como uma banda Doom, mas a verdade é que sempre sentimos que esse rótulo era demasiado redutor, e apesar de sermos fãs do género, não conseguimos ver o paralelo com o que nós fazemos com o que fazem os Process Of Guilt ou os Before The Rain, só para dar dois bons exemplos nacionais. Acho que a primeira música do álbum, “Via Dolorosa” quebra logo esse estigma, mas há mais exemplos, como o single “Winter”. Obviamente não foi uma escolha consciente, porque fazemos sempre o que sentimos e o o álbum é simplesmente um testemunho de uma fase que passámos enquanto pessoas e músicos. Tem elementos de vários sub-estilos dentro do Metal, algumas críticas até já apontaram que tinhamos alguns apontamentos de Post-Rock e outros mais Progressivos, mas nós não pensamos nisso, nem nunca nos sentámos a uma mesa para discutir o estilo a seguir. Talvez o próximo registo seja mais atmosférico ou então caminhe num sentido mais próximo do Rock, é algo que vai depender sempre do nosso estado de espírito mas com a certeza que será sempre sentido e verdadeiro.

A evolução e crescimento dos Painted Black tem sido gradual mas consistente. Depois de conseguirem o contrato com uma editora e verem editado um trabalho vosso em formato profissional qual o próximo passo mais concretizavel?

Neste momento estamos bastante concentrados em tocar o máximo ao vivo e promover o melhor possível o disco. No próximo ano a banda irá fazer o seu 10º aniversário e também queremos fazer algo especial para celebrar essa data. Quando esta fase de concertos acabar, o passo seguinte será claramente criar o nosso segundo álbum, mas ainda é demasiado cedo para entrar em detalhes.


Painted Black – Cold Confort


Etheral Sound Works / 2010

Encontramos-nos numa fase em que a música de peso se vai despindo de algum sentimento (que era seu apanágio e que relembramos com alguma nostalgia nos clássicos que algumas vezes recorremos) privilegiando cada vez mais a agressividade e a técnica em fartos casos explorados até à exaustão. Em alguns casos (não tão raros quanto isso) a música mais parece um exercício matemático. Tão desprovida de sentimento que chega a ser.

Restam algumas excepções que alegram os adeptos com uma visão mais romântica do som eterno. Em Portugal os Painted Black são uma dessas honrosas excepções. E ainda bem!

Toda a música desta banda “transpira” sentimento. Algo que até se percebe pelas declarações prestadas pelo guitarrista da banda, Luis Fazendeiro. Sentimento esse que tem sido o denominador comum na evolução que se tem registado.

Em “Cold Confort” os Painted Black deram um passo maior do que tinham dado de “The Neverlight” para “Verbo”. Nunca se denotou na música de Painted Black tamanha ambiguidade como a registada no álbum de estreia da banda que deu os primeiros passos em Covilhã. Mais do que crescer os Painted Black moldaram o seu som e estão hoje mais perto da identidade que assumem procurar.

Os ambientes registados em temas antigos como por exemplo “The Everlasting Guilt”, “The Desolate Plead” e “Expire” apenas as espaços se encontram. Em troca, as músicas em “Cold Confort” demonstram maior abrangência e riqueza em termos de tempos, ritmos e outros detalhes que dificultam a conotação da música da banda como Doom Metal. “Cold Confort” é um excelente disco de Metal e procurar sub-categorizar o som da banda será um exercício redutor.

A terminar não poderia deixar de destacar dois temas que merecem ser realçados: “Via Dolorosa”, esplêndida "explosão" ritmica alternada com momentos ambientais e carregada de enorme feeling. “Inevitability”, deliciosa e harmoniosa melodia capaz de agarrar o ouvinte do primeiro ao último instante. Dois temas tão diferentes e que tão bem representam aquilo que é a música de Painted Black.

1 comentários:

"Cold Comfort" é sem dúvida o album de METAL do ANO...

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